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Globalização: ''Rogério, produto final da invasão cultural norte-americana'' Parte I


Esta é a história de Rogério, o jovem padrão qualidade global
Este texto é uma "espécie" de analogia. É também, um dos tantos magníficos ''achados'' do meu momento de leitura nas horas vagas. Faço questão de aqui compartilhar, pois, acredito na atualidade dessa história, claro, com suas adaptações à realidade (cabe ao leitor, adaptar o que for necessário e compatível à nossa época).
Você irá encontrar no decorrer do texto, frases entre "aspas" e "parênteses" [( ) e com *], se tratam dos meus breves comentários no intuito de contextualizar para a realidade de nossos tempos.

Ilustração da capa do livro: "A invasão cultural norte-americana". 

''Rogério, produto final da invasão cultural norte-americana'' 
Rogério (tão parecido com Bart Simpson)* é um rapaz de classe média urbana, nascido em são Paulo, em meados da década de 60 (e se formos pensar, em pleno século XXI, essa história ainda se mostra atual)*. Quando criança, fechado em seu apartamento, assistia durante horas e mais horas a TV, enquanto sua mãe se ocupava dos afazeres domésticos. A Globo (e a Veja golpista)* sempre fora sua emissora preferida, sobretudo quando o pai adquiriu uma TV em cores (hoje em led, HD, 3D)*. Nela tudo era bonito, alegre, limpo e agradável (nela a luta de classes se mostra inexistente)*.

Tinha a melhor técnica, sem dúvida alguma. Todo mundo nos seus postos, as coisas acontecendo nas horas certas, do jeito programado, sem nenhum erro. Não dava nem tempo de respirar e um mundo de coisas extraordinárias aconteciam ali mesmo, bem na sua frente. Era inacreditável! Mas eles estavam realmente lá.

Adorava desenhos animados. Mas havia também os westerns: Laredo, Bat Masterson (coisa do passado, agora pe Net Flix)* .... Como se divertia!

Quando começou a ler, fascinou-se pelos quadrinhos: Donald, Homem Aranha, Mickey....e muitos outros.

Sua imaginação corria à rapidez do som. Ou da luz, sei lá. E na suas fantasias ele era o super-herói, salvando pessoas em perigo, a humanidade ameaçada por alguma catástrofe e a Rosana sua vizinha, primeiro grande amor de sua vida. Durou seis meses o romance (num mundo líquido moderno, segundo Bauman afirma, hoje as relações duram bem menos)*!

Hoje vê seu irmãozinho assistir He-Man (ou algum game cheio de armas e campos de batalhas)* e entende exatamente o que ele sente quando, empunhando a faca no pão, pula em frente de sua mãe lá na cozinha (hoje, provavelmente a maioria das mães, encontram-se na labuta fora de casa)* e grita: "Eu tenho a força! (eu diria, eu tenho um Iphone! rsrsrs)*

Lembra-se de como sentia raiva quando sua irmã mais velha ficava assistindo os enlatados lacrimogêneos e terminavam sempre com um grande beijo (prefiro nem comentar...*), seguido de esperadas palavras "The end". Esse happy end tão esperado anunciava, finalmente, que a TV passava a ser totalmente sua (provavelmente, hoje, deve haver mais que uma TV na casa)*.

Podia procurar alguma outra coisa em outro canal (SKY HDTV)* e, conforme o dia, assistir Casal Mac-Millan (hoje, The Walking Dead)*.
Tarde da noite seu pai assitia um suspense de Hitchcock, ou um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, "puxa, como os alemães eram perversos". Como os japoneses eram traidores! Felizmente, venceram os aliados!", pensava Rogério já sonolento, a cabeça recostada no ombro do pai.

Quando crescesse, pensava ele, seria como Falcon. Seu pai lhe dissera uma vez que sempre houve e haveria guerras. Pois então ele também teria a sua e se tornaria herói. Quando ia dormir, colocava Falcon na estante de brinquedos, junto com os aviões, tanques e revólveres. Ele por certo entraria nos seus sonhos. Olhava-o lá no alto e ele parecia lhe dizer: "Eu sou o amanhã!"



Hoje, naturalmente são outros os seus interesses. Faz computação e logo começará um estágio remunerado numa empresa estrangeira com a perspectiva de uma aperfeiçoamento no States.
É campeão de vide game, gosta também de jogar snooker, na casa de praia do seu tio. Pratica surf nos fins de semana e toma um whisky on the rocks quando chega em casa e encontra seu pai recebendo aluns amigos. Faz uma mediazinha com os velhos, marca o ponto e se manda. Afinal, não é ligado em política e não está por dentro nem da open, nem da over e muito menos de black. Por isso sai e vai procurar a sua turma.

O que ele curte mesmo é um chopinho com a moçada, lá no Johnnie's ou no Stop Here.
Veste-se na última moda, dá um realce aqui e ali, e as garotas dizem que ele parece cantor de rock da revista Bizz. Mas sem essas frescuras de brinquedinho, é claro....,porque ele é cara muito macho, "falou?"

Admira seu pai, um homem que faz a si próprio, um verdadeiro self-made man, que deu ao filho tudo o que ele próprio, descendente de imigrantes italianos, não pudera ter na sua infância. Mas às vezes os dois chegam às vias de fato por causa do carro, do som....
E pretende logo também ter o seu microcomputador doméstico. ''Férias em dezembro, nem pensar! Ah, Bahamas, HavaíNew York...bye bye, sonho meu!''.

No resto vai bem,obrigado, pois sabe que é um cara ligado, muito sexy (modéstia às favas) e alto astral. Crise todo mundo tem, que ninguém é de ferro. Depois de 18 anos suas crises começaram a passar mais rápido. Afinal de contas, a gente tem que cavar o  próprio caminho, juntar uma grana, vencer na vida e ser feliz.

Pois é Rogério é isso aí!
Mas quem é Rogério, afinal?

Rogério pe mais um rapaz de 22 anos que mora na maior cidade do Brasil (até mesmo um habitante de cidade do interior)*. Mas como qualquer outro cidadão de classe média urbana que aqui tem vivido nas últimas quatro ou cinco décadas, é o produto final de grande invasão cultural mande in USA, sofrida pelo nosso país durante os últimos anos (eu diria décadas, ou até mesmo um século)*.

Por isso, que ele se parece um pouco comigo, provavelmente também com você e muito com a maior parte de nossos jovens (olha a atualidade destes escritos)*. E mesmo sem perceber, Rogério é um formidável e concreto exemplar daquilo que um grafite dos muros de São Paulo denunciou tão bem: "O Brasil, quem US, sou EEUU".







Texto publicado anteriormente no Blog Um quê de Marx. Texto síntese: Fernanda E. Mattos, autora e colunista do Blog Um quê de Crítica na Geografia. Postagem baseada na obra: "A invasão cultural norte-americana" de Júlia F. Alves. Editora: Moderna. É permitido o compartilhamento desta publicação e até mesmo a edição da mesma. Sem fins lucrativos e cite a fonte. Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.






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