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“O emprego e desemprego no tempo do medo” por Eduardo Galeano + Tipos de desemprego

“O emprego e desemprego no tempo do medo” por Eduardo Galeano


Explicação completa: Um retrato melodramático da situação do "Pânico de 1837", crise financeira nos Estados Unidos que causou uma grande recessão econômica no país que se estenderia até meados da década de 1840. Lucros, preços e salários caíram enquanto o desemprego subiu.
A precariedade do emprego, fator principal, junto com o desemprego, da crise dos salários, é universal como a gripe. Sofre-se dela em todas as partes e em todos os níveis.
Não respiram em paz nem sequer os trabalhadores especializados dos setores sofisticados e dinâmicos da economia mundial.

Quem se salva do terror da falta de trabalho?
O desemprego se multiplica a delinquência e os salários humilhantes a estimulam. Jamais teve tanta atualidade do velho provérbio que ensina: “o vivo vive do bobo e o bobo do seu trabalho”. De resto, já ninguém diz, porque ninguém acreditaria, trabalha e prosperarás.
Não há no mundo mercadoria mais barata do que a mão de obra. Enquanto caem os salários e aumentam os horários, o mercado de trabalho vomita gente. Pegue-o ou deixe-o, porque a fila é comprida.

A sombra do medo morde os calcanhares do mundo, que anda que te anda, aos tombos, dando seus últimos passos rumo ao fim do século. Medo de perder: perder o trabalho, perder o dinheiro, perder a comida, perder a casa, perder: não há exorcismo capaz de proteger da súbita maldição do azar.  Até um grande ganhador, eventualmente, pode transformar-se vencido, um fracassado indigno de perdão ou compaixão (...)

“A estabilidade dos que têm trabalho está garantida por lei, mas, na prática, depende da virgem de Guadalupe”
Quem se salva do terror da falta de trabalho? Quem não teme o náufrago das novas tecnologias, ou da globalização, ou de qualquer outro de muitos mares revoltados do mundo atual? Furiosas, as ondas golpeiam: a ruína ou a fuga das indústrias locais, a concorrência de mão de obra mais baratas de outra latitudes, ou implacável avanço das máquinas, que não exigem salário, nem férias, nem gratificações, nem aposentadoria, nem indenização por demissão, nem qualquer coisa além da eletricidade que as nutre (...)


É universal o pânico ante a possibilidade de receber a carta que lamenta comunicar-lhe que estamos obrigados a prescindir de seus serviços em razão da nova política de gastos, ou devido a inadiável reestruturação da empresa, ou apenas porque sim, já nenhum eufemismo abranda o fuzilamento. Qualquer um pode cair, a qualquer hora e em qualquer lugar. Qualquer um pode transformar, de um dia para o outro, num velho de quarenta anos (...)

Há cada vez mais desempregados no mundo. E no mundo há cada vez mais gente. Que farão os donos do mundo com tanta humanidade inútil? (...) A globalização é uma cartola onde as fábricas desaparecem por mágica, fugindo para os países pobres. A tecnologia, que reduz vertiginosamente o tempo de trabalho necessário para a produção de cada coisa, empobrece e submete trabalhadores, ao invés de libertá-los da necessidade da servidão.

Tipos de desemprego


Uma das formas seria o chamado Desemprego Friccicional(ou desemprego natural), o qual consiste em indivíduos desempregados, temporariamente, ou porque estão mudando de emprego, ou porque foram demitidos, ou porque ainda estão procurando emprego pela primeira vez. Recebe esta nomenclatura porque o mercado de trabalho, segundo os autores, opera com atrito, não combinando trabalhadores e postos disponíveis de trabalho, sendo que sua duração vai depender dos benefícios dados aos desempregados, como o seguro desemprego.
Já o Desemprego Estrutural é consequência dasmudanças estruturais na economia, tais como mudanças nas tecnologias de produção ou nos padrões de demanda dos consumidores (uma vez que a mudança de gostos pode tornar obsoletas certas profissões). No tocante às mudanças tecnológicas, basta pensarmos como exemplo uma montadora de veículos que, ao promover a automatização de sua produção, dispensa inúmeros trabalhadores agora desnecessários diante a capacidade de robôs. Com relação à mudança no padrão da demanda dos consumidores, isso se explicaria ao se pensar na antiga profissão do técnico em consertar máquinas de escrever - equipamento absolutamente obsoleto – o qual perderia sua função na era da informática sem uma reciclagem profissional.
Um terceiro tipo seria o chamado Desemprego Sazonal. Conforme apontam Passos e Nogami (2005), este tipo de desempregoocorre em função da sazonalidade de determinados tipos de atividades econômicas, tais como agricultura e turismo, e que acabam causando variações na demanda de trabalho em diferentes épocas do ano. Trabalhadores rurais cortadores de cana-de-açúcar seriam um bom exemplo, os quais migram de uma determinada região (como do nordeste brasileiro) para outra (como a região sudeste) no período de safra, retornando na entressafra.
O quarto e último tipo seria o Desemprego Cíclico(involuntário ou conjuntural). Um dos mais temidos, e que tem assolado a Europa e os Estados Unidos nestas últimas crises econômicas, ocorre quando se tem uma recessão da economia, o que significa retração na produção. As empresas são obrigadas a dispensar seus funcionários para cortar despesas.
Logo, estar desempregado significa encontrar-se numa situação na qual não se tem nenhum vínculo oficial com qualquer instituição empregadora, não possuindo quaisquer outras fontes de renda, mas o fator que condicionou a tal situação, como se viu, pode variar. Dessa forma, apenas a título de observação, é importante lembrar que mesmo os trabalhadores urbanos que podem sobreviver como vendedores ambulantes não são oficialmente considerados empregados, mas sim como integrantes do trabalho e da economia informal, uma vez que não possuem carteira assinada. Logo, oficialmente estariam desempregados.





REFERÊNCIA: de pernas pro ar. escola do mundo ao avesso. eduardo galeano. editora: l&pmpocket. p.169-187. 

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