Na íntegra: “A sociedade do medo” –
Zygmunt Bauman
Bauman (colagem: Academia de Belas Artes de Varsóvia)
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Estamos em uma época em que as medida de segurança que adotamos só geram mais insegurança. Somos diariamente perseguidos pelos mais diferentes tipos de medo. Entre as ameaças, está a de ficar para trás, ser substituído, não acompanhar o ritmo das mudanças. Estudar os medos contemporâneos é tocar num dos pontos centrais da modernidade líquida?
BAUMAN:
Os medos agora são difusos, eles se espalham. É difícil definir e localizar as
raízes deste medo, já que os sentimos, mas não os vemos. É isso que faz com que
os medos contemporâneos sejam terrivelmente fortes, e seus efeitos sejam
difíceis de amenizar. Há os trabalhos instáveis; as constantes mudanças nos
estágios da vida; a fragilidades das parcerias; o reconhecimento social só é
dado “até segunda ordem” e sujeito a ser retirado sem aviso prévio; as ameaças
tóxicas, a comida venenosa ou com possíveis elementos cancerígenos; a
possibilidade de falhar num mercado competitivo por causa de um momento de
fraqueza ou de uma temporária falta de atenção; o risco que as pessoas correm
nas ruas, a constante possibilidade de perda dos bens materiais etc.
Os
medos são muitos e diferentes, mas eles eliminam uns aos outros. A combinação
desses medos cria um estado na mente e nos sentimentos que só pode ser descrito
como ambiente de insegurança. Nós nos sentimos inseguros, ameaçados, e não
sabemos exatamente de onde vem esta ansiedade nem como proceder.
Os
medos não têm raiz. Essa característica líquida do medo faz com que ele seja
explorado política e comercialmente. Os políticos e vendedores de bens de
consumo acabam transformando esse aspecto em um mercado lucrativo. O comum é
tentar reagir, fazer alguma coisa, buscar desvendar as causas da ansiedade e
lutar contra as ameaças. Isso é, conveniente do ponto de vista político ou
comercial. Tal atitude não vai curar a ansiedade, mas alimentar essa indústria
do medo. Adquirir bens para obter segurança só alivia uma parte da tensão e
mesmo assim, por breve tempo.
Para
o governo e o mercado, é interessante manter acesos esses medos e, se possível,
até estimular o aumento da insegurança. Como a fonte de ansiedades parece
distante e indefinida, é como se dependêssemos dos especialistas, das pessoas
que entendem do assunto, para mostrar onde estão as causas do sofrimento e como
lucrar com ele. Não tem como testar a verdade que nos contam. O mesmo ocorre
quando nossos líderes políticos nos falam que Saddam Huseeis tinha armas de
destruição em massa e estava pronto para detoná-las e quando nos diem que que
nossas preocupações e problemas acabarão se os emigrantes forem mandados para
casa. A natureza dos medos líquidos contemporâneos ainda abre um enorme espaço
para as decepções políticas e comerciais.
EDIÇÃO E SÍNTESE: FERNANDA E. MATTOS, AUTORA E COLUNISTA. PÓS GRADUADA EM GEOGRAFIA, PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA. REFERÊNCIA: CAPITALISMO PARASITÁRIO. ZYGMUNT BAUMAN. EDITORA:ZAHAR. P73-75 2010. Esta publicação não possui fins lucrativos, você pode compartilhar, favor cite a fonte. Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
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