“AS EMPRESAS GLOBAIS E A MORTE DA
POLÍTICA” (na íntegra) – Por uma outra globalização.
A política agora é feita no mercado. Só
que esse mercado global não existe como ator, mas como ideologia, um símbolo.
Os atores são as empresas globais, que
não têm preocupações éticas, nem finalísticas. Dir-se-á que, no mundo da
competitividade, ou se é cada vez mais individualista, ou se desaparece. Então,
a própria lógica de sobrevivência da empresa global sugere que funcione sem
nenhum altruísmo. Mas, se o Estado não pode ser solidário e a empresa não pode
ser altruísta, a sociedade como um todo não tem quem a valha. Agora se fala
muito no terceiro setor, em que as empresas privadas assumiram um trabalho de assistência
social antes deferido ao poder público.
Caber-lhe-ia, desse modo, escolher
quais beneficiários, privilegiando uma parcela da sociedade e deixando a maior
parte de fora. Haveria frações do território e da sociedade a serem deixadas
por conta, desde que não convenham ao cálculo das firmas. Essa “política” das
empresas equivale à decretação de morte da Política.
A política, por definição, é sempre
ampla e supõe uma visão de conjunto. Ela apenas se realizada quando existe a
consideração de todos e de tudo. Quem não tem visão de conjunto não chega a ser
político. E não há política apenas para os pobres, como não há apenas para os
ricos. A eliminação da pobreza é um problema estrutural. Fora daí o que se
pretende é encontrar formas de proteção a certos pobres e a certos ricos,
escolhidos segundo os interesses dos doadores. Mas a política tem de cuidar do
conjunto de realidades e do conjunto de relações.
Na condições atuais, e de um modo
geral, estamos assistindo à “não política”, isto é, à política feita pelas
empresas, sobretudo as maiores.
Quando uma grande empresa se instala
chega com suas normas, quase todas extremamente rígidas. Como essas normas
rígidas são associadas ao uso considerado adequado das técnicas em si mesmas
também são normas. Pelo fato de que as técnicas atuais são solidárias, quando
uma se impõe cria-se a necessidade de trazer outras, sem as quais aquela não
funciona bem. Cada técnica propõe uma maneira particular de comportamento,
envolve suas próprias regulamentações e, por conseguinte, traz para os lugares
novas formas de relacionamento. O mesmo se dá com as empresas. É assim que
também se acertam as relações sociais dentro de cada comunidade. Muda a
estrutura do emprego, assim como as outras relações econômicas, sociais,
culturais e morais dentro de cada lugar, afetando igualmente o orçamento
público, tanto na rubrica da receita como no capítulo da despesa. Um pequeno
número de grandes empresas que se instala acarreta para a sociedade como um
todo um pesado processo de desiquilíbrio.
Todavia, mediante o discurso oficial,
tais empresas são apresentadas como salvadoras dos lugares e são apontadas como
credoras de reconhecimento pelos aportes de emprego e modernidade. Daí a crença
de sua indispensabilidade, fator da presente guerra entre lugares e, em muitos
casos, de sua atitude de chantagem frente ao poder público, ameaçando ir embora
quando não atendidas em seus clamores.
À medida em que se impõe esse nexo das
grandes empresas, instala-se a semente da ingovernabilidade, já fortemente
implantada no Brasil, ainda que sua dimensão não tenha sido adequadamente
avaliada. À medida que os institutos encarregados de cuidar do interesse geral
são enfraquecidos, com o abandono da noção e da prática da solidariedade, estamos,
pelo menos a médio prazo, produzindo as precondições da fragmentação e da
desordem, claramente visíveis, isso é, da crise praticamente geral dos estados
e dos municípios.
REFERÊNCIAS:
POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO. EDITORA: RECORD, 2008. PÁGINAS:67-69.
CARLOS EDUARDO
NOVAES. CIDADANIA PARA PRINCIPIANTES. EDITORA: ÁTICA, 2011. PÁGINAS:15-19. EDIÇÃO E
SÍNTESE: FERNANDA E. MATTOS, AUTORA E
COLUNISTA DO BLOG UM QUÊ DE crítica na geografia.
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